Caetano Pereira da Motta |
Semana passada, fiz um rápido levantamento sobre alguns prédios majestosos que foram demolidos. Entre os referidos, deixei para essa ocasião um em especial, motivo de minha maior mágoa em relação à cidade de Cruz Alta. Aqui abro uma ressalva: quando discorro sobre esse extinto local que tanto poder exerce sobre mim, sou como uma criança problemática: sei que o problema não está em nenhum lugar além de dentro de mim, mesmo assim, acabo descontando nos outros, ou melhor, em nossa cidade.
Em torno de 1841, arranchou-se em Cruz Alta um português oriundo da Freguesia de São Miguel d’Oliveira do Douro, chamado Caetano Pereira da Motta. Este, rapidamente prosperou no comércio local e adquiriu inúmeros terrenos na cidade, fixando residência no prédio onde hoje é a Sorveteria Nápoli, na Rua Pinheiro Machado. No ano de 1858, Caetano Pereira da Motta construiu, no terreno ao lado, onde hoje é a “Loja Caserna”, uma magnífica quinta (chácara) portuguesa, que, na minha opinião, foi o local mais mágico, fantástico e distinto de tudo que já foi construído em Cruz Alta. Era um pedaço de Portugal erigido em domínio tupiniquim. Até mesmo o pórtico da chácara era de um requinte ímpar.
Em torno de 1841, arranchou-se em Cruz Alta um português oriundo da Freguesia de São Miguel d’Oliveira do Douro, chamado Caetano Pereira da Motta. Este, rapidamente prosperou no comércio local e adquiriu inúmeros terrenos na cidade, fixando residência no prédio onde hoje é a Sorveteria Nápoli, na Rua Pinheiro Machado. No ano de 1858, Caetano Pereira da Motta construiu, no terreno ao lado, onde hoje é a “Loja Caserna”, uma magnífica quinta (chácara) portuguesa, que, na minha opinião, foi o local mais mágico, fantástico e distinto de tudo que já foi construído em Cruz Alta. Era um pedaço de Portugal erigido em domínio tupiniquim. Até mesmo o pórtico da chácara era de um requinte ímpar.
Croqui do pórtico
Detalhe monograma CPM |
Detalhe dos azulejos portugueses |
O portão de ferro trabalhado (vide foto ao lado), que resguardava a fachada, foi trazido de Portugal, e continha impresso o monograma do fidalgo “CPM” (vide foto). Nos muros laterais do portão, agrupavam-se alguns azulejos (Vide foto acima) em forma de losango, que se alternavam em azul e branco, e azul e amarelo (também trazidas de Portugal) e, mais acima, a “curva francesa” entre as duas extremidades, que mais pareciam “caracóis de cimento”.
Acima do portão, foi gravada a data de construção (1858) e, no topo da estrutura, dois vasos em faiança, também oriundos de Portugal.
Transpondo-se o portão, descia uma longa escadaria feita com pedras da cidade de Itaqui. (vide foto logo abaixo)
Estátua do Continente Africano |
Acima de cada pedestal havia quatro estátuas femininas (vide foto) que simbolizavam os quatro continentes (a Oceania não havia sido descoberta naquela época).
A partir desse nível, a escadaria descia mais 3 ou 4 degraus, que conduzia para o pátio e ao restante da quinta, que não era de chão cimentado; nas duas extremidades desse mesmo nível, abria-se também dois corredores cimentados: um ganhava a casa do lusitano, onde hoje é a Sorveteria Nápoli; o outro dava para o prédio da atual Lili Boom, que também lhe pertencia. O trajeto que dali se seguia para a residência de CPM terminava em mais uma escadaria de ferro portuguesa (que ainda está lá, nos fundos da sorveteria).Vide foto abaixo:
A escada ainda está lá, embora soterrada de objetos, pois essa parte foi coberta.
Portãozinho ao fim do corredor |
Pois bem. Ao fim da escadaria que descia do portão frontal para os fundos, havia mais um portãozinho (vide foto), ornado dos mesmos detalhes do portão principal e incrementado por dois pedestais distribuídos em extremidades opostas, que sustentavam duas estátuas de leões em tamanho natural. Ao término do último degrau, erguia-se um arco de ferro, tal como um arco-íris, contornado com trepadeiras “Três Marias”. Dali para o restante do pátio, que se estendia por mais de 100 metros até a esquina da Rua Venâncio Aires, (onde hoje é a Farmácia Providência), havia uma infinidade de árvores frutíferas, muitos bancos e mesas de pedras e, mais ao fundo, próximo aos parreirais, uma estátua do Deus Baco (Deus do Vinho) - vide foto abaixo; pois o lusitano não era fraco e produzia “vinho do Porto”.
Foto de 1890. No círculo vermelho, podemos ver os fundos da quinta, que davam para a Rua Venâncio Aires. No círculo azul temos a estátua de Baco e, mais a direita, os referidos parreirais.
Nessa foto panorâmica fica mais fácil de entender toda a estrutura da quinta:
O quadro vermelho indica os limites territoriais da quinta. O círculo amarelo indica a residência do CPM. O círculo verde indica sua outra casa, onde funcionava a Farmácia Motta. O círculo roxo indica o pórtico; a linha vermelha indica a extensão da escadaria, e, desta linha adiante, abria-se o pátio, carregado de árvores das mais variadas espécies.
Encurtando a história, CPM morreu em 1893 e, desde então, o local vinha sendo repassado para herdeiros, até culminar no fim trágico, quando Diniz Dias Filho vendeu a quinta e ela veio abaixo, no fim da década de 1980. A quinta era conhecida por muitos como “o portão” e disseminou-se uma lenda de que era um cemitério, principalmente, devido as iniciais CPM (Caetano Pereira da Motta), que os populares traduziam como (Cemitério Público Municipal).
Desde então, mantenho uma busca desesperada e constante por fotos e relatos de pessoas que conheceram o local. E para as gerações mais novas, que não tiveram o prazer de conhecer esse local fantástico, deixo mais algumas fotos, logo abaixo: