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domingo, 8 de maio de 2011

Entrevista com Saint Clair Cemin

   Em meados de outubro ou novembro do ano passado, tive o prazer de entrevistar (ou melhor, conversar) com Saint Clair Cemin, um dos maiores escultores contemporâneos do mundo, que me acolheu de forma muito gentil e hospitaleira na residência de sua família, em Cruz Alta. Acontece que a entrevista, que acabou se tornando uma conversa amigável e se estendeu por cerca de duas horas, foi gravada em um fita cassete, e, por infelicidade (leia-se burrice), esqueci de apertar um botãozinho chamado REC.
  Tudo que pude fazer foi rebuscar em minha memória os trechos mais importantes da “entrevista” e transcrevê-la para o papel.
   Na ocasião, o escultor fez um longo retrospecto de sua vida, a princípio, rememorando as mais remotas lembranças de sua infância em Cruz Alta, quando vivia na fazenda de seus progenitores. Seu pai foi um homem do campo, plantava trigo e gerenciava as demais lidas, e sua mãe uma mulher culta, que se incumbiu de ensinar o filho a ler e a escrever antes dele vir para a cidade. Aos seis ou sete anos, o garoto, alfabetizado, já demonstrava intimidade com os livros. Descreveu-se como um garoto tímido, de poucos amigos e mais inclinado para as artes do que para as atividades normais entre as crianças, como os esportes. Nessa época, Saint Clair pretendia ser filósofo ou cientista.
Saint Clair, sua bela residência e eu

   O contato com a arte viera de berço.  Não somente pelos esforços de sua progenitora, como, também, por intermédio da própria arquitetura da referida residência da família, idealizada por sua avó. Embora eu confessasse minha admiração pelo bom gosto da casa (vide foto ao lado), o escultor disse que já houve épocas de maior esplendor. As dependências eram inteiramente decoradas com figuras místicas e passagens bíblicas, ornadas do chão ao teto, feitas por um pintor russo. Estava montado o cenário que aguçaria o gênio criativo do futuro artista.
    Saint Clair saiu de Cruz Alta no ano de 1968, aos 17 anos, juntamente com seus pais, rumo a São Paulo. Suas ambições encontravam-se divididas entre a arte e a ciência, uma vez que o jovem era um exímio desenhista, e fazia ilustrações para a Revista Planeta e O Dicionário de Ciências Ocultas, ao tempo em que pretendia estudar Física. Ainda em São Paulo, tivera contato com as mais diversas formas de arte nas bienais de 69, 71 e 73. Nesse período Saint Clair conheceu e fez amizades com alguns artistas de relevo e começou a se interessar pela arte conceitual.
Supercuia - Obra de Saint Clair em POA

   Em 1974 foi para Paris cursar a Escola Superior de Belas Artes, onde trabalhou como gravurista. Em 1978 mudou-se para Nova Iorque, dando seguimento ao trabalho em seu próprio ateliê, produzindo, principalmente, gravuras em metal. No ano seguinte, houve uma significante mudança de planos. A exposição do artista alemão Joseph Beuys deixou Saint Clair tão impressionado com a arte conceitual que o cruz-altense freqüentou-a diariamente. Como resultado, desinteressou-se pela gravura e vendeu seu ateliê. Nos anos seguintes, Saint Clair fez amizades com diversos artistas e começou a desenvolver trabalhos experimentais, explorando diversos tipos de materiais. Mas foi somente após ler a respeito do escultor romeno Brancusi, que se motivou a reunir alabastro, mármore, bronze, gesso, pedras e começar a esculpi-las à mão. 
Constantin Brancusi
Dois anos depois o artista realizou sua primeira exposição em Nova Iorque, reunindo mais de 50 peças. No ano seguinte, houve uma segunda exposição, e o artista já contava com patrocinadores. Foi a partir desse ponto que seu trabalho começou a se tornar reconhecido mundialmente.
   Fato é que Saint Clair Cemin constitui-se, hoje, em um artista singular, o primeiro e único de sua espécie. Alguns dizem que seus trabalhos vagueiam pela arte conceitual... Outros classificam como arte experimental... Outros dizem que é uma extensão do surrealismo.  O próprio classifica seu trabalho como indescritível, pois vai além da linguagem. Seja como for, suas obras estão espalhadas por diversas partes do mundo, de exposições a monumentos em logradouros públicos, desde a famosa “Supercuia” em Porto Alegre, passando pelo Japão, México, Suécia, E.U.A., França, Espanha, Noruega, entre tantos outros. 
   É mole? Tomou, papudos?